O desenvolvimento infantil é cheio de fases marcantes, como o primeiro sorriso, as primeiras palavras ou os primeiros passos. Esses momentos — chamados de marcos do desenvolvimento — ajudam pais, cuidadores e profissionais da saúde a acompanhar o crescimento de uma criança. Mas e quando se trata de crianças no transtorno do espectro autista (TEA)? Será que esses marcos acontecem da mesma forma? Quando devemos nos preocupar?
Neste artigo, vamos entender como ocorrem os marcos do desenvolvimento em crianças autistas, quais sinais podem ser diferentes, quando é hora de buscar avaliação e como apoiar o crescimento dessas crianças com acolhimento e informação.
O Que São Marcos do Desenvolvimento?
Os marcos do desenvolvimento são habilidades esperadas em certas faixas etárias que indicam como uma criança está evoluindo em aspectos como linguagem, cognição, motricidade, socialização e comportamento.
Alguns exemplos comuns incluem:
- Sorrir socialmente por volta dos 2 meses;
- Sentar sem apoio entre 6 e 9 meses;
- Falar palavras simples aos 12 meses;
- Caminhar entre 12 e 18 meses;
- Fazer frases curtas aos 24 meses;
- Interagir com outras crianças por volta dos 3 anos.
Esses marcos funcionam como referências gerais e não como regras absolutas. Cada criança se desenvolve em seu próprio ritmo. No entanto, quando muitos marcos são atingidos fora do tempo esperado, é importante investigar o que está acontecendo.
Como os Marcos se Apresentam em Crianças com Autismo?
Em crianças no espectro autista, os marcos do desenvolvimento podem ocorrer de forma atípica, mais lenta, ou até mesmo em outra ordem. Isso não significa ausência de aprendizado, mas sim uma forma diferente de se desenvolver.
Linguagem e Comunicação
Um dos primeiros sinais de alerta costuma ser relacionado à fala. Algumas crianças com TEA:
- Não balbuciam como esperado nos primeiros meses;
- Não apontam para objetos aos 12 meses (o que chamamos de comunicação gestual intencional);
- Têm atraso na fala ou usam frases de forma repetitiva (ecolalia);
- Não respondem ao próprio nome consistentemente;
- Têm dificuldade para manter conversas simples.
Socialização
A interação social também costuma apresentar diferenças:
- Pouco interesse em brincadeiras coletivas;
- Dificuldade para fazer contato visual;
- Não imitam gestos ou expressões faciais;
- Preferem brincar sozinhas ou com objetos de forma repetitiva;
- Apresentam reações inesperadas a sons, toques ou luzes.
Desenvolvimento Motor e Sensorial
Muitos pais relatam também sinais relacionados ao desenvolvimento físico ou sensorial:
- Atraso para sentar, engatinhar ou andar;
- Andar na ponta dos pés;
- Hiper ou hipoatividade;
- Dificuldade em segurar objetos pequenos com precisão (motricidade fina);
- Reações intensas ou ausência de reação a estímulos como barulhos ou texturas.
Essas variações nos marcos do desenvolvimento são pistas importantes para uma avaliação profissional.
Quando Procurar Avaliação?
Se você observar que uma criança:
- Não balbucia aos 6 meses;
- Não aponta para o que deseja aos 12 meses;
- Não fala nenhuma palavra aos 16 meses;
- Não forma frases de duas palavras aos 24 meses;
- Evita contato visual, parece “não escutar” ou não se interessa por outras pessoas…
…então é hora de procurar uma avaliação multidisciplinar, com profissionais como pediatra, neurologista, fonoaudiólogo, psicólogo ou terapeuta ocupacional. O diagnóstico precoce de TEA pode fazer toda a diferença no desenvolvimento da criança.
A Importância do Diagnóstico Precoce
Receber um diagnóstico de autismo pode ser um momento delicado para as famílias, mas também é uma porta de entrada para o apoio correto. Quanto mais cedo for iniciado o acompanhamento, maiores são as chances de desenvolver habilidades fundamentais para a comunicação, socialização, autonomia e aprendizado.
A chamada intervenção precoce — que inclui terapias específicas para estimular o desenvolvimento infantil — é uma das estratégias mais eficazes para crianças autistas. E quanto antes começar, melhor!
Como Apoiar o Desenvolvimento da Criança Autista?
Pais, familiares e educadores têm um papel fundamental no desenvolvimento de uma criança com autismo. Algumas estratégias ajudam a estimular os marcos de forma respeitosa e eficaz:
1. Respeite o Tempo da Criança
Cada criança tem seu ritmo. Evite comparações e celebre cada conquista, por menor que pareça. O desenvolvimento pode ser mais lento, mas continua acontecendo.
2. Estimule a Comunicação de Forma Natural
Mesmo que a fala verbal demore a aparecer, estimule outras formas de comunicação, como gestos, expressões, imagens e dispositivos de comunicação alternativa. O mais importante é que a criança se faça entender.
3. Estabeleça Rotinas e Antecipações
Crianças autistas costumam se sentir mais seguras com rotinas previsíveis. Use imagens ou palavras simples para explicar o que vai acontecer, ajudando a reduzir a ansiedade.
4. Brinque Junto
A brincadeira é uma das formas mais poderosas de estimular o desenvolvimento. Brinque com a criança mesmo que ela não interaja da forma esperada. Entre no mundo dela — com carinho e sem pressão.
5. Busque Rede de Apoio
Procure grupos, profissionais e instituições que possam te orientar. Compartilhar experiências com outras famílias ajuda a enfrentar os desafios com mais confiança.
E Se os Marcos Nunca Forem Alcançados?
É comum que familiares se preocupem quando certos marcos parecem não chegar — como o uso da fala verbal ou a autonomia para algumas tarefas. É importante lembrar que o objetivo não é “fazer a criança parecer neurotípica”, mas sim desenvolver todo o potencial que ela tem, do seu jeito.
Muitas crianças autistas alcançam marcos do desenvolvimento fora do tempo previsto — e isso é absolutamente válido. Outras desenvolvem habilidades diferentes, como uma memória impressionante, talento com números, desenhos, música ou outras áreas. É preciso olhar para as potencialidades, e não apenas para as limitações.
Conclusão
Os marcos do desenvolvimento em crianças autistas podem acontecer de maneira diferente, mas isso não significa ausência de crescimento ou aprendizagem. O segredo está em observar, acolher, estimular e respeitar.
Se você convive com uma criança autista, lembre-se: o desenvolvimento não é uma corrida. Cada passo, cada olhar, cada gesto conta. O importante é caminhar junto, com empatia, paciência e amor.
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